terça-feira, novembro 14, 2006

Porque nem só de Cinema vive o homem (e as mulheres, então!!), este fim de semana fomos ao Teatro. Pena é que, na cidade Invicta, haja tão pouco por onde escolher neste domínio. Mas, de vez em quando, (bem de vez em quando) lá aparece algo que suscita interesse. Fomos ver a peça cujo título dá nome a este post. Bilhetes grátis (tivemos direito a convites!), boa companhia (uma da outra), bom texto, boa encenação, excelentes actores... valeu a pena!
Mas como já esgotei, por hoje, a minha eloquência verbal, para falar do assunto vou colocar aqui dois “textos”, cujas fontes são citadas, para deixar toda a gente com (alguma, mais) vontade de também ir... ao Teatro!

"Bem-vindos ao teatro. Que bom que vocês vieram. Mesmo. Acreditem que não paramos de pensar em vocês. Até porque partilhamos alguns problemas. Temos mais em comum do que gostaríamos, em algumas ocasiões: somos assaltados como vocês; acompanhamos, estarrecidos, a dança das malas cheias de dinheiro pulando de lá pra cá, como vocês; enfrentamos o trânsito, a perversa carga tributária, a insípida aplicação da justiça, como vocês. Como vocês, sentimos que talvez as coisas nunca mais entrem nos eixos e nos desesperamos. Como vocês. Se alguma coisa nos distancia é que às vezes nós, os loucos que ainda insistimos em fazer teatro no Brasil, achamos que não tem ninguém pensando em nós. Pelo menos não com o carinho com que pensamos em vocês. Mas isso é uma outra história. Até porque vocês vieram. Que bom. Porque acreditem: não paramos de pensar em vocês. E escolhemos um texto exato para o momento difícil que vivemos juntos. O humor e a inteligência de Neil Simon; a sabedoria e a generosidade de Daniel Filho; a exatidão e o charme de Domingos de Oliveira; não vou desfilar o número absurdo de excelentes profissionais envolvidos na produção (dê uma olhadinha na ficha técnica); todos nós nos esforçamos muito para que vocês tenham momentos muito agradáveis e esclarecedores. Porque não temos como erradicar o terrorismo internacional, nem como redistribuir a renda com justiça, mas podemos fazer vocês pensarem na vida com humor, e nas suas relações pessoais apaixonadamente, por mais de uma hora, e tenho certeza de que vocês vão sair do teatro agradecidos por isso. Como nós estamos felizes por vocês terem vindo. Bem-vindos ao teatro."
Antonio Fagundes (http://www.asmulheresdaminhavida.com.br
)

SINOPSE
As Mulheres da Minha Vida conta a história de um escritor de sucesso apaixonado pelo seu trabalho mas com uma vida íntima cheia de conflitos. Para tentar encontrar o equilíbrio emocional acaba por ligar as relações da vida real com sentimentos antigos.Com esta peça, António Fagundes regressa a Portugal, depois do êxito com 7 Minutos, que tanta polémica gerou. O actor apresenta uma interpretação marcada ora pelo tom cómico e sarcástico ora pelo drama, transmitindo os seus conflitos com as mulheres da sua vida, numa verdadeira homenagem ao amor.

FICHA TÉCNICA
Título: As Mulheres da Minha Vida
Autor: Neil Simon
Elenco: António Fagundes, Fernanda Dumbra, Lavínia Pannunzio, Júlia Novaes, Amazyles de Almeida, Eliana Rocha e Amanda Acosta
(Expresso Cartaz)

Perfume - História de um assassino (O Filme)


Foi um dos filmes mais aguardados dos últimos anos: a adaptação do romance “O Perfume”, de Patrick Süskind, que vendeu mais de 15 milhões de exemplares e foi traduzido para 40 línguas, sendo assim conhecido em todo o mundo.

Situado em França, em pleno século XVIII, o filme reconstitui de forma exemplar o ambiente e os hábitos sociais da época e transporta-nos até ela, através da história da vida de Jean-Baptiste Grenouille, um homem que nasceu diferente, viveu diferente e morreu diferente.
Dotado de um olfacto extraordinário, Grenouille vive como um “outsider”, numa dimensão alternativa, utilizando o nariz onde o comum dos mortais utilizaria os cinco sentidos. Servindo-se dessa capacidade excepcional para distinguir os odores e cheiros que circulam à sua volta, usa-a para criar os melhores perfumes e as fragrâncias mais complexas do mundo. Até que se afunda na obsessão de descobrir o perfume perfeito. Uma invulgar e inquietente característica é a de ele mesmo ser desprovido de qualquer odor corporal, o que leva a sociedade a encará-lo com um misto de indiferença e horror.
“Encantado” pelo odor das mulheres, Grenouille torna-se obsecado pela captura do irresistível mas fugaz odor de mulheres muito novas, acabando por se transformar num assassino, matando as suas jovens vítimas para depois extrair e preservar os seus aromas originais. À medida que a obsessão de Grenouille se torna mortífera são encontradas assassinadas doze jovens raparigas. O pânico instala-se enquanto todos se esforçam por proteger as suas filhas e um impenitente e obstinado Grenouille prossegue na busca do ingrediente final para completar a sua demanda.

O jovem e aclamado actor britânico, Ben Whishaw, vencedor de vários prémios pela sua interpretação no filme independente "My Brother Tom", interpreta o papel principal de Jean-Baptiste Grenouille, o assassino que busca o perfume perfeito.
O filme é realizado por um dos mais bem sucedidos realizadores alemães, Tom Tykwer ("Heaven" e "Run, Lola,Run") e tem óptimo elenco, onde é possível encontrar Dustin Hoffman (dando vida ao perfumista Giuseppe Baldini) e Alan Rickman (conhecido dos filmes de Harry Potter, interpretando Antoine Richis, um dos mais importantes “rivais” de Grenouille).

Süskind, quando a ideia da adaptação cinematográfica surgiu, recusara-se a vender os direitos do romance, mas acabou por ceder, após longas negociações com o produtor alemão Bernd Eichinger (“Downfall ”, “The Neverending Story”, “The Name of the Rose", "A Casa dos Espíritos". Bernd Eichinger produziu o filme baseado num argumento de que é co-autor juntamente com Andrew Birkin (“The Name of the Rose"osa”) e Tykwer.

Os custos de produção excederam 50 milhões de euros. Para alguns, ainda assim, e apesar dos esforços de Tykwer, O Perfume – sempre considerado um livro que não poderia ser traduzido para o cinema – deverá manter a sua fama de infilmável. Como será possível, dizem, transpor uma narrativa sensual de cheiros e fragrâncias para o meio cinematográfico, que depende estritamente da estimulação audiovisual? Do ponto de vista pessoal não concordo: o filme faz jus ao livro (ao contrário de, p.ex. “O Nome da Rosa”, que deixa bastante a desejar nesse aspecto).

"Não é uma história sobre um estranho mundo de fantasia com um personagem louco que por acaso tem um olfato bom", disse Tykwer numa entrevista. "É, especialmente, a história de um homem terrivelmente só, tema clássico na literatura e na dramaturgia". Tykwer afirma querer atingir a maior audiência possível com seu novo filme, parecendo mais interessado no apelo geral do protagonista do que nos aspectos bizarros do enredo.
Para Tykwer, o personagem é interessante por ser atormentado por um tema muito atual: incompetência social e incapacidade de vender-se. "Este é um tema com que todos nós podemos secretamente identificar-nos – a preocupação de termos sempre que nos “vender”, a fim de impressionar os outros", disse ele.

Em O Perfume, o suspense pavoroso desenvolve-se sobre um fundo histórico interessante e um rico arsenal de personagens. A história é convincente e contada de maneira apaixonante. Brilha com os seus cenários sumptuosos e com grandes desempenhos. Entretanto, Tykwer parece-me falhar ligeiramente no desenvolvimento do personagem principal para que o filme convença total e absolutamente. Como é que um jovem “diferente”, com um sentido olfativo extraordinário, de repente se transforma num monstro? "Por fim, em toda sua amoralidade, acaba sendo uma história com moral", explica Tykwer, não especificando.

Para mim, a moral é simples: é impossível descobrir/encontrar/fabricar "O Elixir do Amor”.

Terminando, que o comentário já vai mais do que longo, "O Perfume" já inundou as salas portuguesas a 09 de Novembro 2006 e é altamente recomendável.

Apontamento

Sempre ouvi os Coldfinger com algum desinteresse... Uma banda portuguesa, com uma vocalista de voz transparente e cristalina, sim, mas cantando em inglês músicas de um Pop/Rock que nada me trazia de novo.
Qual não foi o meu espanto quando descobri o primeiro trabalho a solo da Margarida Pinto (sim!, a vocalista da referida banda!), com muitas músicas da autoria dela mesma, cantado em Português!
Ouçam, aí ao lado, e digam se não acham contagiante! (para alem de inteligentemente bem feito).


Margarida Pinto
Apontamento

A minha alma partiu-se como um vaso vazio.
Caiu pela escada excessivamente abaixo.
Caiu das mãos da criada, descuidada.
Caiu, e eu fiz-me em mais pedaços do que havia loiça no vaso.

Fiz barulho na queda como um vaso que se partia.
E os deuses que há debruçam-se da escada.
Para ver o que a criada fez de mim
Não se zanguem com ela.
São tolerantes com ela.

Asneira? Impossível? Sei lá!
Tenho mais sensações do que tinha quando me sentia eu.
Asneira? Impossível? Sei lá!
Tenho mais sensações do que tinha quando me sentia eu.

A minha alma partiu-se como um vaso vazio.
Caiu pela escada excessivamente abaixo.
E os deuses que há debruçam-se da escada
E sorriem à criada.
Não se zanguem com ela.
São tolerantes...

A minha alma partiu-se como um vaso vazio
Caíu, partiu-se, caíu
A minha alma partiu-se como um vaso vazio
Caíu, partiu-se, caíu

O que era eu, o que era eu?
Um vaso vazio
O que era eu, o que era eu?

Alastra a escadaria atapetada de estrelas.
Ao fundo um caco brilha entre os astros.
A minha obra? A minha alma principal? A minha vida?
E os deuses olham-o por não saber por que ficou ali.

Asneira? Impossível? Sei lá!
Tenho mais sensações do que tinha quando me sentia eu.

O que era eu, o que era eu?
Um vaso vazio
O que era eu, o que era eu?
Ai, o que era eu, o que era eu?
Um vaso vazio
O que era eu, o que era eu?