segunda-feira, outubro 09, 2006

Leituras I

“ Este não é um livro sobre a morte. É um livro sobre a vida, tempo entre parêntesis. Os médicos, mais do que qualquer outra profissão, buscam um sentido para a existência. Vasculham a natureza, examinam-na entre duas lamelas, ampliam-na no microscópio, estudam a sua estrutura. Tal como os antigos, de forma disfarçada, procuram a sede da alma, a sua residência. No fim, descobrem que a transcendência reside num qualquer aspecto moral ou ético, às vezes apenas numa palavra ou atitude que transforma um homem em santo, ou dá sentido à vida quando a encerra, como se o melhor de uma história estivesse no ponto final. (...)
As histórias deste livro, são, no fundo, histórias de amor, mas também de coragem, a força necessária para não perder a dignidade e encontrar uma coerência no trajecto da vida, tendo como guia uma ideia ou um sentimento. (...)
Este é um livro de contos. Histórias verdadeiras, muitas, de encantar. Está nelas o melhor que a humanidade pode oferecer, noutras, o pior. Histórias de heróis e vilões que se revelam no fim da linha. Viagens em que se perde um companheiro, todos os dias. E no entanto continua-se. A esperança é a última a morrer, a esperança de enganar a natureza, ou apanhar distraído o Deus absurdo, atirador furtivo que fere por igual bons e maus, crianças e velhos, numa roleta macabra. Para a frente sempre, caso após caso, derrota após derrota.
Não, este não é um livro sobre a morte. É um livro sobre a Vida.”

Nuno Lobo Antunes, in Prefácio

PS - estou quase certa que a repórter Conceição Lino não leu estas páginas antes de fazer /falar da entrevista que passou hoje na SIC, sob o tema da eutanásia na doença terminal; caso contrário, talvez não se tivesse deixado "deslumbrar" de forma tão evidente...

1 Comments:

Blogger ponto azul said...

Estou curiosa...Bjs :-)

17:45  

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