segunda-feira, janeiro 29, 2007

Michel Houellebecq



“Michel Houellebecq entrou definitivamente para o círculo dos escritores incómodos, essa categoria que simula tomar posições nos debates mais controversos suscitados pela própria obra. É por muitos considerado uma espécie de celebridade que a literatura francesa produziu nos últimos anos. Os seu livros estão traduzidos em 36 línguas, e uma recente adaptação de uma das suas obras para filme transformou-o em multimilionário. Numa escrita provocatória e de enorme dureza que chega por vezes a ser insuportável, Houellebecq é tanto irónico como inteligente e voluntariamente excessivo. Recentemente foi finalista do Prix Goncourt, revelando indubitavelmente a influência determinante sobre os seus leitores, as polémicas da sociedade francesa e a incrível manipulação que exerce sobre os meios de comunicação.”

“Michel Houellebecq é politicamente incorrecto, chama os nomes certos às coisas e serve-se do seu ofício para questionar a sociedade em que vivemose, com perplexidade e inquietação, reflectir sobre o nosso destino comum. Mas, da forma como o faz – recorrendo a amplas doses de humor, ironia, sarcasmo e mordacidade – acaba por incomodar muito boa gente: é esta, afinal de contas, a sua intenção fundamental e primeira.”

Cruzei-me com Houellebecq em 2001, quando reparei na edição portuguesa de Partículas Elementares. Comprei-o mas não o li. Em 2002 apareceu Plataforma, que também me chamou a atenção. Eram 2 livros com tudo para serem interessantes a entrar, impositivos, nas minhas pesquisas de escrita de autores estrangeiros contemporâneos. Comprei o segundo e li-o de seguida. O que me levou imediatamente a pegar no anterior e ficar à espera, até finais de 2006, da edição de mais um romance deste escritor, Extensão do domínio da Luta, que acabei de "digerir".
Também nesta “descoberta” andei “para trás” nas leituras, em termos de cronologia de escrita, mas acho que foi o melhor.
Agora está aí um 4º, A Possibilidade de uma Ilha, para continuar a seguir/ler – atentamente. Haja tempo.

quarta-feira, janeiro 24, 2007

Falemos de casas

I learn by going where I have to go.
THEODORE ROETHKE


" Falemos de casas, do sagaz exercício de um poder
tão firme e silencioso como só houve
no tempo mais antigo.
Estes são os arquitectos, aqueles que vão morrer,
sorrindo com ironia e doçura no fundo
de um alto segredo que os restitui à lama.
De doces mãos irreprimíveis.
- Sobre os meses, sonhando nas últimas chuvas,
as casas encontram seu inocente jeito de durar contra
a boca subtil rodeada em cima pela treva das palavras.

Digamos que descobrimos amoras, a corrente oculta
do gosto, o entusiasmo do mundo.
Descobrimos corpos de gente que se protege e sorve, e o silêncio
admirável das fontes –
pensamentos nas pedras de alguma coisa celeste
como fogo exemplar.
Digamos que dormimos nas casas, e vemos as musas
um pouco inclinadas para nós como estreitas e erguidas flores
tenebrosas, e temos memória
e absorvente melancolia
e atenção às portas sobre a extinção dos dias altos.

Estas são as casas. E se vamos morrer nós mesmos,
espantamo-nos um pouco, e muito, com tais arquitectos
que não viram as torrentes infindáveis
das rosas, ou as águas permanentes,
ou um sinal de eternidade espalhado nos corações
rápidos.
- Que fizeram estes arquitectos destas casas, eles que vagabundearam
pelos muitos sentidos dos meses,
dizendo: aqui fica uma casa, aqui outra, aqui outra,
para que se faça uma ordem, uma duração,
uma beleza contra a força divina?

Alguém trouxera cavalos, descendo os caminhos da montanha.
Alguém viera do mar.
Alguém chegara do estrangeiro, coberto de pó.
Alguém lera livros, poemas, profecias, mandamentos,
inspirações.
- Estas casas serão destruídas.
Como um girassol, elaborado para a bebedeira, insistente
no seu casamento solar, assim
se esgotará cada casa, esbulhada de um fogo,
vergando a demorada cabeça para os rios misteriosos
da terra
onde os próprios arquitectos se desfazem com suas mãos
múltiplas, as caras ardendo nas velozes
iluminações.

Falemos de casas. É verão, outono,
nome profuso entre as paisagens inclinadas.
Traziam o sal, os construtores
da alma, comportavam em si
restituidores deslumbramentos em presença da suspensão
de animais e estrelas,
imaginavam bem a pureza com homens e mulheres
ao lado uns dos outros, sorrindo enigmaticamente,
tocando uns nos outros –
comovidos, difíceis, dadivosos,
ardendo devagar.

Só um instante em cada primavera se encontravam
com o junquilho original,
arrefeciam o reto do ano, eram breves os mestres
da inspiração.
- E as casas levantavam-se
sobre as águas ao comprido do céu.
Mas casas, arquitectos, encantadas trocas de carne
doce e obsessiva - tudo isso
está longe da canção que era preciso escrever.

- E de tudo os espelhos são a invenção mais impura.

Falemos de casas, da morte. Casas são rosas
Para cheirar muito cedo, ou à noite, quando a esperança
Nos abandona para sempre.
Casas são rios diuturnos, nocturnos rios
Celestes que fulguram lentamente
Até uma baía fria – que talvez não exista,
como uma secreta eternidade.

Falemos de casas como quem fala da sua alma,
Entre um incêndio,
Junto ao modelo das searas,
na aprendizagem da paciência de vê-las erguer
e morrer com um pouco, um pouco
de beleza."

Herberto Helder

Eu continuo a "construir" a minha. Todos os dias.

segunda-feira, janeiro 22, 2007

Assalto e Intromissão




Breaking and Entering

É o mais recente filme de Anthony Minghella, rodado em Londres. A prever pela obra anterior do realizador, a expectativa era, no mínimo, de ser um filme interessante.

Jude Law interpreta o papel de um arquitecto paisagista, que tem tudo, mas está despojado de tudo e só tenta, desesperadamente, ser feliz. (Acho que foi a primeira vez que vi um Jude Law um nadinha grisalho, mantendo-se charmoso e convincente!). Aparece num registo que me fez lembrar um pouco o de “Closer”. Tem, durante todo o filme, um ar de “cachorrinho abandonado” gritando por todos os poros “Adoptem-me! Preciso de Amor!”. Robin Wright Penn desempenha um papel relativamente “comum”, de uma mulher/mãe “sueca”, gozando dos atributos da beleza e frieza que é imputada às mesmas, tentando, a todo o custo, criar “pontes” com a filha (de um anterior ralacionamento, vítima de distúrbios psíquicos) e o actual marido, Law, do qual se foi afastando ao longo dos anos de vida conjunta. Juliette Binoche não surpreende, num papel aparentemente discreto (refugiada de Leste com um filho problemático/delinquente) mas que acaba por ser o alvo de todas as atenções e a razão pela qual a trama do filme existe, num envolvimento “ambíguo” com Jude Law.

O filme não é fácil de “engolir”. É complexo na sua mostra das relações familiares, nas famílias votadas à disfunção que lutam com todas as forças para não o serem, nas personagens complicadas, insatisfeitas, das quais ficamos às vezes sem saber os verdadeiros sentimentos ou intenções.
Devo dizer que inicialmente esperava um pouco mais. Quando se vem de um “Paciente Inglês” ou mesmo de um “Cold Moutain” (menos aplaudido pelo público), aquilo que se antecipa está sempre acima da fasquia média. Mas não podemos esperar rasgos de genialidade em tudo! E o filme acabou por me convencer – está bem realizado, bem construído (embora se demore demasiado em aspectos que nem constituem o cerne da questão), apresenta um bom naipe de actores e tem em Jude Law um alicerce inabalável! (Na minha opinião, Jude Law ameaça seriamente transformar-se no melhor actor britânico da actualidade e anos vindouros). Para além de ter um aparente “Final Feliz", que não deixa de nos presentear com um contraditório amargo de boca.

A ver, criticar e comentar.

sexta-feira, janeiro 19, 2007

It's not a love... song

Continuo fã da série de TV Grey's Anatomy. Um destes dias passa-me... ou talvez não! Entretanto, aqui fica mais um "momento musical", que ilustra o percurso de uma das personagens até ao final da segunda temporada - aí, no dito final, entra o Chasing Cars, dos Snow Patrol, que já aqui coloquei.
Quem nunca viu a série, certamente não vai entender o vídeo, mas o YouTube é o único instrumento de que sei dispor para a partilhar por cá.
Melancólica? Triste? Nope! Apenas "It's not a love song".

PS-estou um bocadinho "backwards" nestes dias!!





Song Beneath The Song
Maria Taylor

Cryptic words meander

Now there is a song beneath the song
One day you'll learn
You'll soon discern its true meaning
An interesting detachment
A listless poem of love sincere
Desire, despair
Overlapping melodies

And it's not a love, it's not a love
It's not a love, it's not a love song
It's not a love, it's not a love, it's not a love song
It's not a love, it's not a love, it's not a love song

Oh now the roots are reminiscing
Recurring dreams of minor chords
Metred time
Muted chimes find the beat

And in the pulse there lies conviction
A steady push and pull routine
The cymbals swell
High notes flail into reach

And it's not a love, it's not a love
It's not a love, it's not a love song
It's not a love, it's not a love, it's not a love song
It's not a love, it's not a love, it's not a love song

It's not a love, it's not a love,
It's not a love, it's not a love song
It's not a love, it's not a love, it's not a love song
It's not a love, it's not a love, it's not a love song...

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Revigorante :-)

sexta-feira, janeiro 12, 2007

Sputnik, meu Amor

"Na primavera dos seus vinte e dois anos, Sumire apaixonou-se pela primeira vez na vida. Foi um amor intenso como um tornado abatendo-se sobre uma vasta planície -, capaz de arrasar tudo à sua passagem, atirando com todas as coisas ao ar no seu turbilhão, fazendo-as em pequenos pedaços, esmagando-as por completo. Com uma violência que nem por um momento dava sinal de abrandar, o tornado soprou através dos oceanos, arrasando sem misericórdia o templo de Angkor Vat, reduzindo a cinzas a selva indiana, tigres e tudo, para depois em pleno deserto pérsico, dar lugar a uma tempestade capaz de sepultar sobre um mar de areia toda uma exótica cidade fortificada. Em suma, um amor de proporções verdadeiramente monumentais. A pessoa por quem Sumire se apaixonou, além de ser casada, tinha mais dezasseis anos do que ela. E, devo acrescentar, era uma mulher. Foi a partir daqui que tudo começou, e foi a partir daqui que (quase) tudo acabou."
“O gelo é frio e as rosas são vermelhas. Estou apaixonada. E este amor vai decerto arrastar-me para longe. A corrente é demasiado forte, não tenho escolha possível. Mas já não posso voltar atrás. Só posso deixar-me ir com a maré. Mesmo que comece a arder, mesmo que desapareça para sempre.”
Já tinha visto este livro, nos escaparates das livrarias, vai fazer quase um ano. Na altura, assoberbada por outros afazeres, não lhe dei demasiada atenção. Entretanto, foram sendo publicados outros romances do escritor e, na sequência da oferta do “Norwegian Wood”, pelo Natal, decidi-me a pesquisar a sua obra. Uma sensação obsessiva obrigou-me a começar pelo livro que já tinha visto, que pensei ser o primeiro a ter sido escrito, aquele de que aqui falo agora. Li-o de um trago, como quem começa distraídamente a comer uma laranja sumarenta e só pára quando, com espanto, se dá conta de que aquele foi o último gomo, ficando com as mãos impregnadas da textura, essência e cheiro do fruto, mesmo depois de se tentar “livrar” dele. É assim este livro. Sputnik (companheiro de viagem, em russo) leva-nos pela mão, da primeira à última página, mantendo-nos suspensos e agarrados, num estado indefinido mas que não queremos terminar.
Entretanto comecei outro romance de Haruki Murakami. Percebi que estou a fazer ao contrário, cronológicamente falando da data de escrita. As editoras não se importam; neste momento eu tão pouco! Uma espectacular descoberta.

domingo, janeiro 07, 2007

Resoluções de Ano Novo

É verdade. Passou o Natal, o Fim de Ano... as Festas.
Estivemos um nadinha ocupadas no “saltitar” entre as casas dos familiares, no disfrutar da companhia dos que nos querem bem. Claro que sou de opinião que o espírito de Natal deve existir durante todos os dias do ano. Aliás, o “desgaste” da festividade vem acontecendo com celeridade, de há uns anos para cá, com uma vivência meio “amorfa” da questão, ilustrada por montras alusivas à quadra nas lojas dos centros comerciais por todo um trimestre do final de cada ano - o apelo ao consumismo e o esquecer dos valores que deviam estar subjacentes a esta(s) quadra(s).
De qualquer forma, e como nunca é tarde, ficam aqui os votos de que as Festas de todos os que aqui passam tenham corrido de acordo com os respectivos desejos.
Também não é tarde para tomar resoluções de Ano Novo. Sinto que 2007 será um ano com algumas mudanças. Vi ou ouvi em qualquer
lado que os números ímpares são menos fechados, mais dados a alterações/alternativas (contraditório?). Assim espero, pois pressinto que várias coisas vão modificar neste Novo Ano, espero (sempre!) para melhor.
Entretanto, aqui fica uma das minhas empedrenidas resoluções, ilustrada pela voz da Mathilde Santing: “Here, There and Everywhere”, um intemporal tema dos Beatles, numa versão excepcional. (Só não passa na Passim FM pq o File Lodge está fora de serviço :-( ). O Cd intitula-se "SO FAR SO GOOD" ;-)

Here, making each day of the year

changing my life with a wave of her hand

nobody can deny that there's something there

There, running my hands through her hair

both of us thinking how good it can be

Someone is speaking but she doesn't know he's there

I want her everywhere and if she's beside me

I know I need never care

But to love her is to need her

everywhere, knowing that love is to share

each one believing that love never dies

watching her eyes and hoping I'm always there

I want her everywhere

and if she's beside me I know I need never care

But to love her is to need her

Everywhere, knowing that love is to share

each one believing that love never dies

watching her eyes and hoping I'm always there

I will be there

and everywhere

Here, there and everywhere

Bom 2007!!